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15 de fev. de 2013

Anonimato na Praça: O Passado




   A História que será contada aqui é sobre o mistério de um mero banco de praça feito simplesmente de madeira. Porém, para chegar até ele você terá que conhecer Ricardo, um homem que vive sozinho em seu apartamento, que o conquistou através do suor de seu trabalho como engenheiro. Por não ter muitos amigos, sempre que quer sair com alguém, chama seu amigo de infância Murilo, e desta vez o convidou para almoçar num restaurante perto de seu trabalho.
   Todo arrumado de terno e gravata, Murilo aparece no agradável lugar e procura por seu amigo, até que vê o aceno de um longo braço, que vinha de uma mesa no mais distante canto do local. Andou apressadamente até seu amigo, quando este começou a falar:
-   Está atrasado!
-   Eu sei. Desculpe, tive um contratempo num julgamento.
-   Como sempre! Acho que sendo um advogado, o trabalho toma uma boa parte do seu tempo livre, e acho que você deveria tomar mais cuidado com isso.
-   Que nada! Consigo muito bem administrar meu tempo e sei aproveitá-lo.
-   Ah, por favor! Não me venha com essa de “organizadinho”, porque a mim você não engana.
   Um aflito silêncio pairou no ar. Enquanto Ricardo conferia o cardápio, Murilo pensava sobre a surpreendente mistura de arrogância e ironia que ia e vinha de seu amigo. Para ele isso era irritante. Mas, como achava que para uma velha e boa amizade continuar, aturar isso era um pequeno sacrifício que ele poderia fazer.
-    Esqueci de perguntar como está você.  Saindo muito?
-    Você sabe que não sou muito de sair.
-    Ah, Ricardo. Já faz 10 anos que seus pais morreram! Pensei que você já tinha superado tudo isso. – Logo Murilo viu que não devia ter dito aquilo, porque teve um impacto não muito bom no engenheiro, que demonstrou a aflição em sua expressão. – Desculpe. – lamentou.
   O almoço passou em algumas poucas perguntas, pois como no início deste, o silêncio estava com uma enorme força sobre os dois indivíduos. Quando os dois já iam se levantando para sair, Murilo teve uma brilhante ideia:
-    Tive uma ideia.
-    Ótimo! – retrucou com seu tom sarcástico.
-    Que tal irmos sexta-feira ao cinema? – continuou o advogado, ignorando o sarcasmo que vinha de seu amigo.
-    Não sei... Ultimamente tenho me dedicado muito aos meus projetos!
-    Está aí, o homem que disse para tomar conta do tempo exagerado que passo trabalhando!
   Ricardo parou para pensar.
-    Tudo bem então. Que filme iremos assistir?
-    Vamos escolher na hora.
-    Aonde?
-    No mesmo cinema de sempre!
-    De noite?
-    Sim.
-    Então até sexta. – despediu-se Ricardo já saindo.
-    Até – respondeu Murilo que foi ignorado.

   A semana passou rápido, quando o solitário engenheiro já estava no Shopping Center aonde se encontrava o cinema, cujo foi marcado com seu amigo no início da semana. Estava esperando sentado no meio das mesinhas da praça de alimentação, que era próxima à bilheteria, até que avistou Murilo acompanhado de duas mulheres e logo pensou: “Não creio!”.
   O trio logo avistou aquele solitário curitibano em uma das mesinhas, quando o advogado acenou para ele, que de resposta veio ao encontro deles.
-    Oi, Ricardo! – cumprimentou Murilo, quando reparou que seu amigo estava com o velho olhar de sempre que usa quando não está gostando de nada do que está acontecendo – Bom, deixe-me apresentar. Essa – apontou para a mulher de cabelos pretos, pele branca e olhos azuis – é minha namorada, Flávia. E essa – desta vez o aceno foi para a loira de olhos castanhos – é a amiga dela, Bianca.
   Para não parecer antipático Ricardo as cumprimentou. Logo, a namorada do advogado questionou:
-    Vamos comprar os bilhetes?
-    Vocês duas podem ir indo na frente comprar... – respondeu o namorado.
-    Mas que filme vamos assistir? – retrucou a mulher com outra pergunta.
-    Podem escolher!
   Assim que as duas saíram, o bombardeio começou:
-    Você não falou nada que traria companhia! E agora? Se você soubesse quanto tempo faz que não tenho um encontro com uma garota...
-    Calma! Vai sair tudo bem!
   Enquanto a conversa deles era de desespero, a delas era de animação. Bianca era solteira, então estava animada com este encontro.
-    Ai amiga! Espero que este amigo do seu namorado seja simpático e inteligente, porque bonito e arrumadinho ele é!
-    E olha que ele nem sabia que nós duas viríamos!
-    Nossa! Então quer dizer que ele é assim mesmo? Sem falsas aparências? Assim eu me apaixono fácil! – falou ela lembrando-se das roupas dele: uma camiseta branca junto de uma jaqueta de couro preta, um jeans escuro e um cachecol para reforçar contra o frio pavoroso de Curitiba.
-    Calma. O Murilo disse que ele tem um trauma de um acidente de carro com os pais dele, e desde então ele não teve mais vida social. Então, não o afobe e nem o espante com seu entusiasmo.
-    Está bem!
   Quando foram atendidas compraram ingressos para uma comédia romântica. Então entraram na sessão. Durante o filme as duas moças se envolveram com a história e ficaram fascinadas. Murilo achou até bonzinho, mas Ricardo foi quem achou tudo tão patético. Para elas e Murilo, o filme passou rápido, já para Ricardo foi um pesadelo sem fim. Quando os créditos finais apareceram, as luzes ascenderam e todos começaram a se levantar. Na porta de saída, Ricardo já ia fugindo:
-    Bom, foi um prazer conhecer vocês garotas – falou com uma pequena pontada de dúvida se estava sendo verdadeiro – Mas, agora vou para o conforto do meu lar.
-    Ei, calma! – falou Murilo chamando a atenção dele – Nós vamos juntos.
-    Não precisa – disse o homem de cabelos castanhos querendo sair – Acredito que tenha terminado por hoje. Vou andando para meu apartamento, então... – terminou, pensando na pequena distância entre aquele lugar e o prédio em que morava.
-    Mas não acabou o passeio! – protestou o advogado de cabelos pretos – Nós vamos andando até perto do seu prédio, aonde tem um ótimo lugar, para passar uns minutos conversando.
-    Sério? – duvidou o amigo – Qual?
-    A praça!
-    Que praça?
-    A que está logo em frente ao seu prédio.
-    Desculpe Murilo, mas eu moro naquele lugar há praticamente quase nove anos e não sei de nenhuma praça por perto. – respondeu naquele tom arrogante que ao mesmo tempo era irônico que seu velho amigo tanto odiava.
-    Ah é? Pois eu nunca morei por lá e sei muito bem que tem uma praça exatamente na frente do seu prédio – retrucou.
-    Está bem! – respondeu o “temporariamente- irônico”, pensando que, como ele é fechado e que só sai do apartamento se for para ir ao trabalho, talvez nem tivesse notado na praça.
-    Vamos então! – falou Flávia animada.
   Os quatro saíram em silêncio, e foram caminhando pela larga calçada da capital paranaense. E como já citado nessa história, a cidade tem um clima para lá de polar - tanto até que no verão há dias em que se faz frio.
   Aquela caminhada, fez com que Ricardo revivesse a memória dos passeios com os seus pais, quando ele tinha 12 anos. As caminhadas no frio, as idas ao teatro ou ao cinema, as engraçadas idas ao circo e até dos parques de diversão. Ele amava muitos seus pais. E ao lembrar-se do horroroso acidente de carro que sofreu com seus pais, ele tem cada vez mais certeza que os amava.

   Naquela noite, Ricardo já tinha 18 anos e tinha acabado de tirar a carteira de motorista. Seu pai como gesto de congratulação, lhe deu um carro novo. Para comemorar, decidiram sair pela cidade. O filho sentou-se no banco do motorista, o pai ao seu lado e a mãe no banco dos passageiros, logo atrás de seu marido. Numa descida, o sinal vermelho iluminava o semáforo enquanto o carro do recém-anunciado motorista vinha de lá de cima no limite de velocidade permitido. Quando o automóvel seria freado, a luz verde já se iluminava, então ele continuou, mas não por muito tempo. Somente quando já cruzava a rua, percebeu os grandes faróis do caminhão que vinha do seu lado direito. O choque foi estrondoso e muito barulhento. O metal rangia e destruía vidas. O pai morreu na hora. A mãe estava gravemente ferida e tinha pouco tempo de vida. O filho foi levemente ferido, pelo fato do impacto ter sido maior nos pais. Mas mesmo assim, teve um corte fino que ia da lateral direita de sua barriga até o início de suas costas, que o marcou com uma cicatriz até hoje. Alguém que estava por perto viu o ocorrido e chamou a ambulância. Quando esta chegou, socorreu o filho e a mãe que estava sangrando muito, mas ainda viva. O corpo do pai foi levado para o necrotério. Na manhã do dia seguinte, o filho foi ver como sua mãe estava. Soube que ela tinha morrido na cirurgia. O choque psicológico em seu cérebro o fez se fechar por muito tempo. Por isso o problema dele ser um pouco arrogante e de não se relacionar bem com as outras pessoas...

- Alô! Terra para Ricardo – disse Murilo ao desatento amigo – Chegamos – apontou para a praça.



                                                                                                                         Continua...

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